Velhacaria
e de ânimo apoucado e vingativo,
o ser humano,
do paraíso a pontapés corrido
como um vulgar gusano
de aspecto repulsivo,
pôs-se a pensar
na forma de se desquitar
daquela humilhação
que o autor da criação
lhe fez passar.
Fazendo-se pedreiro
a tempo inteiro,
o tal maçon das catedrais
de góticos vitrais,
o salafrário,
hipócrita e matreiro,
fez-lhe um sacrário
de pedra de calcário
e talha ricamente decorada,
toda dourada,
onde o meteu,
oculto por um véu,
à conta, o maganão,
de lhe querer prestar adoração,
mas na intenção
de sob aquelas imponentes naves
o ter na mão
fechado a sete chaves.
E agora quando quer
algum favor
vai-lhe à porta bater,
rezando com fervor!
Tudo uma farsa
que muito bem disfarça,
embora vá dizendo,
para o vizinho ao lado,
que assim procedendo
tudo não passa
de uma pirraça
por ter sido escorraçado
como um gusano ou verme imundo
do reino da felicidade,
sem dó nem piedade,
porque no fundo, muito lá no fundo,
nos seus penetrais,
como maçon que é,
ou seja, construtor de catedrais,
sem laivo algum de fé,
laico e ateu,
apregoadamente incréu,
se está nas tintas para o céu:
o fariseu!
João de Castro Nunes
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