Cartão para Einstein
Pequeno como sou
em questões científicas, meu caro,
vassalagem te presto,
porquanto é manifesto
que foste um caso raro
de génio e de talento,
autêntico portento,
que a humanidade honrou!
Mas no que toca ao resto,
especialmente a quanto
disseste acerca da mulher
em termos de miolos e de aspecto,
a mão não te levanto
nem faço qualquer gesto
a fim de te saudar,
assim como não tiro o meu chapéu
ante o teu mausoléu
que é um altar
onde apetece rezar
de olhos postos no céu
que tu foste o primeiro a compreender
sem mesmo o ver.
Nesta matéria,
seja a mulher santa ou gualdéria,
eu não te considero
acima de entidades como Homero,
Luís Vaz de Camões, Vergílio ou Dante,
às quais eu rendo fervoroso preito
e me ajoelho
como perante
o Criador
que nos fez o favor,
no seu conceito,
de sem o teu científico conselho
nos pôr dentro do peito,
juntinho ao coração,
o tormentoso Amor,
esse vulcão
que tem o efeito
de um detonador
ante a visão
de um rosto feminino
que o espírito nos deixa pequenino:
poeta por contágio como sou,
é por aí que eu vou!
João de Castro Nunes
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